Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 1964. 5:00 da manhã. Aeroporto Internacional do Galeão. No Caravelle da Panair, vindo de Paris, está Brigitte Bardot. Fãs, fotógrafos e jornalistas se espremem aguardando. Ninguém podia acreditar, aos 29 anos de idade, sem nunca ter saído da Europa, Brigitte Bardot, a musa do cinema, resolve tirar umas férias no Brasil. Ela quase não consegue sair do avião e ao ver o fusca de Afraninho Nabuco, amigo de seu namorado Bob Zagury (um marroquino-brasileiro que a conheceu na Europa), invadir a pista para resgatá-la, abandona passaporte, violão, oito malas e foge. Perseguido, o fusca segue a toda velocidade no recém inaugurado Aterro do Flamengo. Destino? Um apartamento na Av. Atlântica, perto do Copacabana Palace. Dias de trânsito parado e confusão na rua. Ninguém sai da frente do prédio. Todos querem sua imagem, autógrafo, entrevista ou pelo menos um sorriso ...
Conclusão: nem Brigitte Bardot via o Rio, nem o Rio via Brigitte. É feito um acordo. Brigitte daria entrevista e posaria para fotos, desde que a deixassem livre para circular. Assim acontece. Finda a entrevista, pé na estrada. Destino? Armação dos Búzios. Naquele tempo, Búzios não tinha água encanada, luz ou telefone. A população era de 300 pessoas, todas vivendo da pesca. Finalmente a liberdade total! Brigitte nadava nua, comia frutas silvestres trazidas por crianças, brincava com pequenos animais, circulava descalça em quintais com porcos e galinhas criados soltos, comparava a espuma branca do mar ao Champanhe, sua bebida preferida. Sua amizade com os pescadores gerou histórias contadas com humor e o doce sabor das boas lembranças.
Depoimento de José Geraldo Chaves, filho do caseiro responsável pelo sítio na praia de Manguinhos, onde Brigitte ficou hospedada. "Na época eu tinha 12 anos e colhia pitangas pra ela. Ela ajudava a puxar as redes dos pescadores e sentava na venda do meu Tio Ceceu para tocar violão." Soca, mergulhador profissional. Quando criança ganhou a máscara de mergulho de Brigitte, com a qual iniciou sua carreira.
Os pescadores tinham uma singular imagem de Brigitte. Alheios ao mito, consideravam-na "uma criança bonita, parecida com uma boneca de olhos verdes, que tem medo de ser encarada e se irrita com a aglomeração". A criançada porém, a tinha conquistado. Os filhos dos pescadores eram aliados e informantes de Brigitte. Exercendo uma atividade de contra-espionagem, informavam qualquer estranho que rodeasse as cercanias. Uma relação baseada na amizade e carinho mútuos. Brigitte acreditou que estava livre saiu para andar na praia. De biquíni amarelo e a pele bronzeada foi em direção exata ao local onde estava o fotógrafo do Jornal do Brasil. Avisada pela gurizada, correu para casa, mas já era tarde.
"Guardo preciosamente a lembrança inesquecível de um pequeno paraíso onde eu corria descalça, acompanhada de um gato que eu chamava de Moumoume, maravilhada com os beija-flores, com os flamboyants, as buganvilias, a cor translúcida de um mar cheio de espuma e brilhante que parecia um champanha azul e com o qual eu me embriagava". Brigitte Bardot
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